Poderia recorrer de novo todo o que já tinha escrito sobre categorias e como desde criança a gente aprendeu de acordo delas. Agora, tanto faz se você estiver disposto a viver ou não de acordo com essas categorias. O ponto é que existem e a gente mora dentro da sociedade que funciona assim. Então, tudo bem...até chegar às "categorias" das pessoas. Ao mesmo tempo de que a gente foi criada para reconhecer certas categorias e padrões normalizados na sociedade, não é aceito dizé-as com referência às pessoas, pelo menos não nos EUA (refleitado um pouco na postagem anterior de Lisa sobre peso). Era impregnado em nós, com pouca sutileza, não categorizar certas "coisas", o seja, tipificar as pessoas. Fazer isso é considerada má educada e no caso (talvez só americana) discriminatória. Tudo isso até chegar à palavra terrivel que nenhuma sociedade quer admitir que exista nela; implica a categorização com base na cor: o racismo. Então, categoirzar é mais do que aceitado, é reenforçado socialmente só que não é aceito em certas circunstâncias. Enquanto na escola e fora fomos socializados para reconhecer e viver de acordo com categorias hierarquizada da raça e de gênero entre outros, não era "educado” categorizar e generalizar "tipos" de pessoas com base na raça nem na etnia, pelo menos não em voz alta. Eu nasci no meio da década dos anos oitenta quando a televisão americana começava ter personagens e clamor da falta de personagiens principais "negros" ou "latinos". Com certeza essa mentalidade de luta influiu em minha formação e a de todas as pessoas de minha geração.
Talvez isso faça sentido no contexto de um país com uma história tão forte de imigração como os EUA, mais existem outros países na América mesmo (a Argentina, o Brasil por exemplo) que partilham dessa história em comum. Então, qual é a diferença? É que as pessoas dos EUA ficam com medo de ofender as pessoas e é só uma maneira de esconder o racismo inerente nas pessoas ou realmente é válido? Já ouvi falar muito aqui com um tom desdénhado quase chegando à raiva por causa das pessoas ficarem com esse "medo" de falar "a verdade". Elas se defendem dizendo que são honestas e direitas e é uma característica “inerente” à identidade nacional brasileira. Mas, não sei se acredito nisso. Todo lugar que tenho visitado tem esse mesmo desdén pela atitude "americana" de sensibilizar e esconder o que segundo os demais, a gente sabe e está pensando só que não dizendo. Muitas vezes escuto comentários de pessoas na área de "ai ai, mais dizer isso é politicamente correto" acompanhado com o movimento suspeito dos olhos e o nariz feito em arrugas. Praticamente é a pior coisa que alguém pode fazer: dizer ou produzir algo que é considerado politicamente correto. Sempre voltando ao contexto histórico, talvez possa fazer sentido o porquê da mentalidade politicamente correta do povo americano. Mas só entender a base histórica de porque surgiu não significa que a gente tem que aceitar essa ideologia nem viver de acordo com ela. Não é? Mas, realmente será que é uma diferença de opinião só? Uma simples perspectiva ou olhar distinto? Ou será que estou sofrendo do que chamam de "choque cultural" agora, quatro meses depois de ter chegado ao Brasil? Uma amiga me falou que devia ser uma questão da adaptação cultural assim. Deve ser uma diferença desse tipo mas não sei se acredito nisso. Já tenho escutado e visto muitas coisas aqui que me deixam tão surprendidas e ofendidas. Por exemplo, vi uma cartaz anunciando a novela “negócio da china” com todos os personagens (oito pessoas pelo menos) brasileiros fazendo “olhos chineses”, o seja, com os dedos dos mãos estirando os olhos para que ficarem mais finos e menos redondos. Ou cada vez que alguém me da uma descrição de uma pessoa, se tem uma mínima possibilidade que os demais lhe reconhecem como gay, é a primeira característica da pessoa dada: você sabe....ele é alto, loiro, aaa ele é gay! Sabia? Como se com esse comentário fosse a única característica importante e marcante da pessoa. Ou, também, quando as pessoas me respondendo depois de eu contar que fui assaltada duas vezes: a sim, você tem que ter cuidado nesta cidade. Têm muitos negãos que te podem roubar. Como se tinha incluido o cor da pele das pessoas que me assaltaram como fator principal do evento. Sempre depois das pessoas falarem assim, fico calada, com uma sorrisa falsa na minha cara, fixada numa transe sem palavra alguma para dizer. O que é que eles estão esperando de mim? Se é uma resposta verdadeira ou “honesta” que querem, acho que não vão gostar mais de mim. Mas estou aqui para aprender de uma outra cultura, então devo respeitar isso né?
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quarta-feira, 5 de novembro de 2008
O desdén de ser politicamente correto
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3 comentários:
Gosto dos temas que vocês abordam aqui... ainda que este em questão eu ache um pouco "batido", gosto de ler a visão de vocês que não é muiiiitooo diferente da minha.
Só tomo uma postura alheia à indignação por uma questão óbvia e pessoal de preferir isolar toda essa podridão que a humanidade ostenta a séculos.
Só pra deixar claro, não é "tapar sol com peneira" e sim extinguir.
hubad7rghbsufg
Muito atrazada quero expressar a minha opinião sobre o discurso de Amy, concordando com o que ela diz.
Eu acho que os que lamentam o politicamente correto como um problema de hipocrisia e de conformismo são os verdadeiros hipócritas, porque se conformam com preconceitos antigos sem querer mudar os seus pensamentos para conseguir uma visão do mundo mais conforme com a nova realidade, mas não querem ser desaprovados por isso.
Quem lhes força a não manifestar claramente suas ideias racistas, antifeministas, omófobas?
Ninguém!
Só o medo da desaprovação social e do prejuicio à sua imagem pública.
Por isso nunca podem chamar-se de vítimas.
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