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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sambando no Rio

Como primeira coisa tenho de dizer que sou desafinada e não sinto o ritmo, ou seja, para dizer a verdade, não sei nem cantar nem dançar.
Porém, como diz João Gilberto que "os desafinados também têm um coração", me emocionei muito assistindo ao ensaio técnico da escola de samba Portela no Rio.
Quando o guia me deixou sozinha às nove e meia da noite no grande espaço da escola, cheio de luzes e de gente, me senti perdida e pensei:"Eu que faço aqui?"
No começo achei que seria uma boa tática fingir de cantar, abrindo os lábios sem emitir som e mexer um pouco o corpo de maneira confusa mas discreta, sem atrair a atenção, mas pronto percebi que não precisava fingir nada, porque havia muita gente que ficava ao lado da pista só olhando.
Me senti muito aliviada, ainda mais por ver o que acontecia no salão, onde as pessoas que faziam o ensaio não tinham muita habilidade.
Era o grupo das mulheres, nem lindas, nem jovens, nem peladas: simples mulheres do bairro (Mangueira), algunas velhinhas ( uma tão velha que eu estava seriamente preocupada pela sua chance de chegar com vida até o final do ensaio ) e na maioria dos casos totalmente despreocupadas com o aspecto artístico e coreográfico do samba.
Era uma total anarquia: cadauna dançava com seus passos e suas figuras.
Algunas viravam de esquerda a direita e outras de direita a esquerda - ao mesmo tempo, claro-
uma levantava os braços, agitando a cabeça, en quanto a companheira ao lado guardava uma atitude de aristocrática compostura.
Inclusive as duas garotinhas que dançavam no tablado exibiam uma falta total de coordenação.
A coisa mais engraçada era que os intrutores não faziam nanda para disciplinar o caos: iam entre elas com os passinhoas do samba, cantando, sorrindo e senhalando a aprovação com a cabeça.
Outra coisa inacreditável é que todo o mundo no salão nunca parou de cantar a mesma canção por duas horas seguidas.
Viva Portela...Portela, você é a mais bela...
Naturalmente, cadaum do seu jeito.
Os intrutores recomendavam: mais alto, mais forte, pronuncia mais clara das palavras, e todos continuavam como antes.
E não agem assim por no ter em conta o evento, porque se vê que todos seguem com muita atenção e seriedade, inclusive as pessoas que ficam ao lado da pista de baile.
Ninguem está brincando!
Será que eles sabem que o samba é liberdade, livre espressão da pessoa que encontra a armonia no grupo?
Porque eu sei que nos dias do Carnaval acontece o milagre e a escola desfila, linda, organizada, uma verdadeira maravilha!
Será que o samba é como uma metáfora do Brasil, onde a partir do caos e da anarquia se chega à armonia e ao bem sucedido?
Pois não?
Paola