Veja no mapa de onde vêm nossos leitores. Seja bem vindo(a)!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O desdén de ser politicamente correto

Poderia recorrer de novo todo o que já tinha escrito sobre categorias e como desde criança a gente aprendeu de acordo delas. Agora, tanto faz se você estiver disposto a viver ou não de acordo com essas categorias. O ponto é que existem e a gente mora dentro da sociedade que funciona assim. Então, tudo bem...até chegar às "categorias" das pessoas. Ao mesmo tempo de que a gente foi criada para reconhecer certas categorias e padrões normalizados na sociedade, não é aceito dizé-as com referência às pessoas, pelo menos não nos EUA (refleitado um pouco na postagem anterior de Lisa sobre peso). Era impregnado em nós, com pouca sutileza, não categorizar certas "coisas", o seja, tipificar as pessoas. Fazer isso é considerada má educada e no caso (talvez só americana) discriminatória. Tudo isso até chegar à palavra terrivel que nenhuma sociedade quer admitir que exista nela; implica a categorização com base na cor: o racismo. Então, categoirzar é mais do que aceitado, é reenforçado socialmente só que não é aceito em certas circunstâncias. Enquanto na escola e fora fomos socializados para reconhecer e viver de acordo com categorias hierarquizada da raça e de gênero entre outros, não era "educado” categorizar e generalizar "tipos" de pessoas com base na raça nem na etnia, pelo menos não em voz alta. Eu nasci no meio da década dos anos oitenta quando a televisão americana começava ter personagens e clamor da falta de personagiens principais "negros" ou "latinos". Com certeza essa mentalidade de luta influiu em minha formação e a de todas as pessoas de minha geração.

Talvez isso faça sentido no contexto de um país com uma história tão forte de imigração como os EUA, mais existem outros países na América mesmo (a Argentina, o Brasil por exemplo) que partilham dessa história em comum. Então, qual é a diferença? É que as pessoas dos EUA ficam com medo de ofender as pessoas e é só uma maneira de esconder o racismo inerente nas pessoas ou realmente é válido? Já ouvi falar muito aqui com um tom desdénhado quase chegando à raiva por causa das pessoas ficarem com esse "medo" de falar "a verdade". Elas se defendem dizendo que são honestas e direitas e é uma característica “inerente” à identidade nacional brasileira. Mas, não sei se acredito nisso. Todo lugar que tenho visitado tem esse mesmo desdén pela atitude "americana" de sensibilizar e esconder o que segundo os demais, a gente sabe e está pensando só que não dizendo. Muitas vezes escuto comentários de pessoas na área de "ai ai, mais dizer isso é politicamente correto" acompanhado com o movimento suspeito dos olhos e o nariz feito em arrugas. Praticamente é a pior coisa que alguém pode fazer: dizer ou produzir algo que é considerado politicamente correto. Sempre voltando ao contexto histórico, talvez possa fazer sentido o porquê da mentalidade politicamente correta do povo americano. Mas só entender a base histórica de porque surgiu não significa que a gente tem que aceitar essa ideologia nem viver de acordo com ela. Não é? Mas, realmente será que é uma diferença de opinião só? Uma simples perspectiva ou olhar distinto? Ou será que estou sofrendo do que chamam de "choque cultural" agora, quatro meses depois de ter chegado ao Brasil? Uma amiga me falou que devia ser uma questão da adaptação cultural assim. Deve ser uma diferença desse tipo mas não sei se acredito nisso. Já tenho escutado e visto muitas coisas aqui que me deixam tão surprendidas e ofendidas. Por exemplo, vi uma cartaz anunciando a novela “negócio da china” com todos os personagens (oito pessoas pelo menos) brasileiros fazendo “olhos chineses”, o seja, com os dedos dos mãos estirando os olhos para que ficarem mais finos e menos redondos. Ou cada vez que alguém me da uma descrição de uma pessoa, se tem uma mínima possibilidade que os demais lhe reconhecem como gay, é a primeira característica da pessoa dada: você sabe....ele é alto, loiro, aaa ele é gay! Sabia? Como se com esse comentário fosse a única característica importante e marcante da pessoa. Ou, também, quando as pessoas me respondendo depois de eu contar que fui assaltada duas vezes: a sim, você tem que ter cuidado nesta cidade. Têm muitos negãos que te podem roubar. Como se tinha incluido o cor da pele das pessoas que me assaltaram como fator principal do evento. Sempre depois das pessoas falarem assim, fico calada, com uma sorrisa falsa na minha cara, fixada numa transe sem palavra alguma para dizer. O que é que eles estão esperando de mim? Se é uma resposta verdadeira ou “honesta” que querem, acho que não vão gostar mais de mim. Mas estou aqui para aprender de uma outra cultura, então devo respeitar isso né?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Obama, O Cara


O dia chegou! Hoje milhões de americanos vão votar para o novo presidente dos EUA. Como eu já mandei meu voto (para Obama, claro) pelo correio e está quase garantido que ele vai ganhar, eu já estou pronta para fazer uma festa hoje a noite.

Antigamente eu pensava que seria melhor estar nos EUA para celebrar esse grande momento da história do país, mas como eu descobri recentemente, eu não vou brindar à vitoria de Obama sozinha. Há muitos brasileiros que estão torcendo para ele também, inclusive meu namorado, Alan, que o admira muito. O texto seguinte vem de uma entrevista que eu fiz com Alan ontem, na véspera da eleição.

Você viu os quadros de Obama no Shopping Barra e a propaganda dele na rua?

Eu vi. Vi a foto de Obama na rua em que eu passava. Eu vi Obama em vários lugares. Eu tenho uma camisa de Obama que ganhei como presente de meu amigo que mora nos EUA. E vesti porque ele é o cara. Quero que Obama faça tudo que Bush só estragou. Aqui no Brasil, tem muitas pessoas que amam ele. Todo mundo tá torcendo para ele. Cada passo que ele dá pra fazer palestra, a gente tá assistindo.

O que você pensa sobre Obama?

Eu sou uma pessoa brasileira. Sou negro, entendeu? E espero que Obama ganhe porque vai ser o primeiro negro ser presidente na história dos EUA. Tomara que ganhe porque vai ser bom para nós que têm pele negra e também vai ser bom para o país dos EUA que ele vai direitar tudo. Porque Bush só entrou pra fazer coisas que não era pra fazer. Bush tem uma mente de criança. E Obama, não. Ele vai ser o cara. Vai ser o homem dos EUA. E o outro, qual é o nome dele?

McCain.

McCain é somente um…Não sou racista, não. Eu sou eu, negro…Mas, McCain vai ser outro branco como Bush, que vai querer fazer guerra também como Bush fez…Por que a crise está agora nos EUA? Por causa de Bush porque ele não pensou antes como entrou na presidência. Se ele pensasse, não fazia nada disso.

O que é que você já ouviu falado sobre Obama na TV e no rádio?


Ouvi que ele tá na frente de McCain e que todo mundo tá torcendo pra ele. Nós brasileiros negros, a gente que trabalha nos lugares mais fracos do país—como garçom, como varredor da rua—a gente precisa superar mais. A gente tá rezando pra Obama ganhar porque, para nós, ele vai ser o exemplo da nossa vida como Nelson Mandela, que combateu a discriminação na África do Sul. A gente aqui tá esperando a oportunidade de ser alguém na vida, porque a gente ainda não tem toda nossa liberdade. Então, eu acho assim, não é só pra mim, que sou negro, mas para todas as pessoas que vivem no planeta, que têm pele negra, vai ser feliz que ele ganhar. Um presidente negro vai ver como as pessoas negras estão sofrendo. Porque agora não têm um presidente que vai lá e cuide das pessoas. Teve agora a situação em Nova Orleans—a Katarina—e Bush nem ligou direito para lá, que lá só tem pessoas negras.

Mas tem pessoas pobres e brancos também.


Eu vi na televisão. Eu sou assistador brasileiro e eu vi. Então fosse que Obama estivesse no lugar, como negro ele já tava direitando tudo lá.

Se Obama for eleito o que é que vai acontecer?

Eu espero que Obama seja um cara com carácter, que ajude as pessoas. Também tem que cumprir as coisas que ele falou antes da eleição. Tem que juntar o negro com o branco. Têm que ser a mesma coisa, que a gente é humano. A gente só tem uma pele só. Você tem uma orelha. Eu tenho um nariz…Mas eu espero que ele ganhe não só porque eu sou negro, é porque ele tem inteligência na cabeça. Vai ser a evolução do mundo. Obama vai ser o presidente que vai iluminar o mundo. Ele vai ser o melhor cara que vai ter. Bill Clinton é bom. George Bush é uma merda. Se ele fosse um presidente bom, não fazia as coisas que fez. Eu espero que Obama entre e tire a guerra do Iraque, e traga as tropas para os EUA porque lá é o país deles [os iraqis] não é o país dos EUA…Mas, Obama também pode ser um negro que não pode fazer nada. Posso falar e fazer nada. Não falei que Obama é o rei. Eu só espero que ele seja um cara que respeite todo mundo—branco, negro, azul, vermelho. Não importa a cor.

Essa é a primeira vez que os brasileiros torceram tanto para um presidente de fora?


Sim, é a primeira vez. É porque ele é negro. Não é racismo, não. É porque ele é o primeiro negro dos EUA...Eu quero que Obama ganhe pra tirar toda essa discriminação do Brasil. O branco correndo é barão; o negro correndo é ladrão. Quando você vai na discoteca que só tem brancos, aquele [funcionário] branco vai dar atenção a você, mas vai dar atenção mais ao branco e você fica no lado. Eu não sou racista. Somente tou falando a realidade.

Você acha que, um dia, o Brasil vai ter um presidente negro?


A gente espera que um dia vai ter um negro para resolver nossos problemas. Espero que um dia a gente esteja no bar ou no shopping, e um branco sorria pra gente, ou que os brancos tratem bem e respeitem as empregadas negras. Eu quero tudo isso pra minha vida—ter um presidente maravilhoso como Obama. Eu creio que ele vai ganhar. E creio que, nas próximas eleições, um negro vai ganhar de novo.