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sábado, 15 de novembro de 2008

A cultura transplantada e a resposta à loucura pro Obama

O sábado antipassado fui ao jazz no MAM. Se não chover, é um evento que ocurre o ano enteiro no Museu de Arte Moderna (MAM) aqui em Salvador. Uma banda local toca música após do pôr o sol (18:30) até aproximadamente as 21 horas. Acho que posso dizer que é um dos meus lugares favoritos aqui; me lembra muito o verão em Madison com a música de sexta-feira acompanhado com o ambiente e o som das ondas chocando com as rochas e os barcos lá na frente, a cerveja gelada, a fofoca voando livremente na brisa. Tudo tranqüilo, tudo lindo, tudo erudito. Quanto mais desce o sol, mais as luzes artificiais das casas distantes aparecem como refleição dos imagens delas, como estrelas do céu caidas na terra. A vista realmente é lindo; é um lugar encantador. Mesmo não sendo muito fã da música jazz, adoro ir ao jazz no MAM. É o conjunto da música, a vista, o mar, e as pessoas que criam o espectáculo.

O sábado quando que fui ao jazz, mesmo o cenário sendo familiar, o jeito das pessoas ainda não era. Conheci um rapaz de trinta e tantos anos aquele noite e quando ele soube que eu era dos EUA començou falar em voz alta, quase gritando, que seu inglês não era muito bem e que morou um tempo no meu país, no Alabama. Logo ele começou a me explicar o racismo que ele experimentou lá. Só que o racismo que ele experimentou era porque o consideravam branco. Na sua visão, os EUA são um país racista porque apesar de ele ser baiano, lá era branco. Me falou que morando lá, ele ensinou em um colegio dominado pela presença negra mas se estranhou por o sotaque e o uso da giria muito forte dos negros, coisa que ele jamais conseguiu entender nem menos encontrar jeito de expressar. Me falou muitas coisas sobre o meu país que, na verdade, eu nunca tinha experimentado. Explicou que o povo lá era racista com ele porque ele era branco e aqueles negros não gostavam dos brancos. Que era um país segregado e quando ele tentou se integrar eles recusavam. Então, falou para eles apontando para seu braço meio moreno dizendo “Não! Não! Sou Baiano! Sou negro, gosto dos negros, sou um de vocês”. Ainda assim, eles se comportavam de um jeito racista segundo ele, excluindo ele por ser branco. Aqui é negro, lá é branco e quem sabe o que aconteceria na Europa ou na Ásia ou na África. Então raça é uma questão da preferência e definição pessoal? Não pode ser tão livre porque tem limites sociais que permitem certas pessoas se classificarem como negro e outras não. Então, onde fica essa linha? O que é necessário para se classificar como uma raça ou outra? Claro, o aspeto teórico não elimina o preconceito nem os exemplos concretos e reais de discriminação baseada nas definições da raça aceitadas socialmente.

Os EUA são um país racista. A história e inumeráveis exemplos modernos podem comprovar isso. Mesmo assim o tempo todo aqui em Salvador ouço palabvras e discursos tão racistas que não sei da onde vem esse concepto de que o Brasil não tem preconceito. Ainda não tive a oportunidade de viajar muito pelo país, porém, depende do ambiente mas mesmo aqui as pessoas me confirmam que o Brasil é um paraíso racial e que só existe a livre mistura de raça e isso concorda com a imagem exportado do Brasil também. Aqui na Bahia talvez as coisas são um pouco diferentes e a questão racial chegou alcançar a um nível acadêmico tanto que em Salvador tem uma parte da UFBA dedicada somente aos estudos disso (CEAO, centro de estudos afro-orientais), coisa que pelo momento acho absolutamente necessário para visibilizar o tema.
Com o olhar sempre voltado para fora (os EUA e Europa e as vezes só o sul do país), as pessoas daqui ficam falando, discutindo, até apaixonando de um discurso e por uma esperanza que talvez não lhes é própia de uma forma direita pelo menos. Fui para o Rio de Janeiro faz duas semanas e teve um rapaz lá que fez uma escultura na areia deletrando Barack Obama e saiu em cinco jornais o próximo dia. Quando fui ao Pelourinho o dia da eleição, entre todas as pinturas coloridas típicas da Bahia, vi um retrato de Obama. No Porto da Barra, vi um rapaz com uma camisa rosa com a foto de Obama em frente e o arcoiris atras. Por cada lado que viro a minha cabeça têm arte e manifestação por o apoio a Obama. Todo isso antes das eleições para empurrar essa energia boa na atmosfera e fazer que ele ganhasse (agora ganhou, suponho que funcionou).
Nos dias posteriores das eleições presidenciais dos EUA, os jornais baianos estavam lotados de artigos, comentários, e demias sobre o novo presidente-eleito Barack Obama. Em particular, gostei de um que saiu no jornal A Tarde, entitulado assim: “Barack Obama – o sonho da Bahia” por João Jorge Rodrigues (http://www.atarde.com.br/jornalatarde/opiniao/noticia.jsf?id=1003813). Nesse artigo não muito cumprido, um jornalista baiano comentou sobre a reação e esperança do povo brasileiro enquanto às noticias dos EUA terem eleito um presidente negro como o novo poder. Abriu o artigo dizendo: “A eleição americano foi capaz de revelar um fenômeno social modderno” e seguiu desse jeito até usar uma palavra que acho muito adequado aqui Obamania. Realmente as pessoas ficaram loucas por saber que os americanos eram capaceis de escolher um homem negro como presidente e até ficaram sorprendidas quando vieram a reação positiva e emotiva de muitas pessoas brancas, asiaticas, latinas retratados na tevê chorando com emoção por saber que Obama ia lhes representar pelo menos por os próximos quatro anos. Diz o artigo que com a eleição de Obama “nos inspira a lutar mais para realizar o sonho dos meninos e meninas negros esquecidos na periferia da cidade-mãe do Brasil”. Tudo transplantado, tudo olhar da fora analizando o Brasil, dizendo o que deve fazer e que deve arreglar, fazendo modelo para o país seguir, até o racismo nesse país. Na minha aula de Historia Cultura Brasileira, falamos o semestre enteiro da cultura transplantada da Europa antigamente e agora mais com os EUA e como as vezes (muitas vezes) não deu (da) certo aqui mesmo por serem transplantados numa sociedade que não sofreu a mesma historia da Europa. Antes nesse blog, analacei a cultura brasiliera de acordo com o olhar queer que aprendi nos EUA. Agora gostaria de escutar uma teoria de raça que vem daqui. Quero ouvir e ler textos produzidos pelas pessoas que são daqui para não seguir a vissão transplantada que tanto foi exposto o Brasil.
Por mais que gosto que as pessoas fiquem felizes por causa dos resultados electoriais do meu país (o que me faz sentir orgulhosa de pertencer à comunidade que fez possivel essa mudança) ainda é muito presente a idéia de transplantação da cultura. Quando vou ao jazz no MAM, me sinto transportada, transplantada ao mundo da fora, a minha casa. Mas o momento que eu pisar na rua lá acima, tiro o meu spray pimenta da minha bolsa e caminho a casa, olhando sempre atras de mim. O que quer dizer isso? Estou já cansada do meu discurso. Quero que uma pessoa baiana me diz.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Um dia na praia...

Passando o fim de semana no Morro de São Paulo, eu me dei conta da economia turística lá e me lembrei que eu queria fazer alguns comentários sobre a economia da praia aqui em Salvador. Como eu sou de uma cidade (Filadélfia) que não tem praia, eu só conheço a praia americana de longe. Embora tivesse ido a praia em Nova Jersey não mais que cinco vezes na minha vida, eu sei que o espaço comercial lá e o Boardwalk, a calçada feita de madeira ao lado da areia, onde tem hotéis, restaurantes, lojas que vendem lembranças, a parque de diversão, e minha lugar preferida, a fliperama. Quando eu cheguei aqui em Salvador, eu fiquei fascinada com a diferença entre o comércio da praia brasileira e o das praias que eu conheci nos EUA.

Primeiro, sem o Boardwalk como espaço comercial, os vendedores levam todos os seus produtos nas costas pela areia e andam de um lado ao outro, tentando vender suas mercadorias. Eles geralmente reconhecem os gringos de longe e muitos sabem falar pelo menos o nome do seu produto em inglês. Quase todos os vendedores são simpáticos (quem quer perder clientes?) mas alguns também são tão agressivos até que você pode se convencer que está precisando de alguma coisa que nem poderia usar na praia.

Eles têm de tudo! Têm pulseiras tecidas, biquínis de coco, chapéus de folha de palmeira, brincos, colares de contas de vários tamanhos e cores, DVDs e CDs pirateados, redes de descanso, vestidos e muito mais. Têm coisas que você pode precisar na praia como protetor solar, bronzeador, creme para oxigenação do cabelo, óculos de sol, e cangas. Têm também coisas que eu nem podia imaginar encontrar na praia como tatuagens de henna, consultação de tarô, livros de segunda mão, quadros pintados, e manicures. As únicas coisas que você não pode vender na praia são a areia e o mar.

Pode ser velho ou ainda criança, tem vendedores de todo tipo, inclusive eu! Inspirada pela manicurista eu já fiz meu próprio trabalho lá, enrolando o cabelo rasta de um amigo meu, depois do qual eu ganhei o interesse de mais três clientes. Eu nunca imaginei abrir um salão de beleza, contudo na praia, até eu cheguei aqui.

Mas os vendedores de roupa e os artesanatos não são os únicos trabalhadores da praia, também tem os caras que aluguem cadeiras e sombreiros enquanto vendendo bebidas. Embora a prática de alugar cadeiras seja ilegal, como eu li nesse artigo, é muito comum, particularmente no Porto da Barra. Tem vários grupos (devem ser chamados empresas pequenas) competindo alugar espaço na areia e cada um tem seus clientes fiéis, que ficam na mesma parte da praia cada vez que visitam.

Além de tudo, os vendedores dos quais eu gosto mais são os que vendem merendas. Embora eu goste de merendar, eu prefiro eles mais por causa do seu jeito de chamar a atenção dos consumidores. Cada um tem um anúncio reconhecível. Por exemplo, o velho que vende picolé tem um assobio que você pode ouvir de longe. O cara que vende limonada sempre fala, “O limão chegou! Limonada!” Finalmente, ninguém pode esquecer dos vários gritos de "Queijo!!" ou da música dos vendedores de Camarão do João com sua repetição de camarão e João em várias frases. Não dá muito para relaxar na praia assim com tantas vendas, mas para mim, não é um problema porque eu gosto mais de socializar e observar as pessoas e suas interações.

Foi pelas minhas observações que eu descobri que ainda tinha outras pessoas trabalhando na praia sem parecer trabalhar. Tem guias turísticas fazendo amizades com gringos, oferecendo levá-los aos lugares bons da cidade. Tem prostitutas. Tem “caçadores” que vivem namorando gringas. Tem alguns capoeiristas que treinam e dão aula na praia e outros que dão saltos espectaculares para chamar a atenção dos gringos que podem levá-los fora do país para fazer apresentações. Tem pessoas que trabalham só pela conversa. Tem pessoas fazendo propaganda para boates e restaurantes, que convidam os turistas às festas. Tem outras que falam de apartamentos vazios ou que recomendam pousadas boas. Todo isso é trabalho que acontece na praia.

E no final do dia, depois de aplaudir o sol, você pode ver os pescadores. Pode ver pessoas que recolhem latas e garrafas, outras que colocam o lixo nas lixeiras, e outras que esvaziam as lixeiras. Tem varredores que tiram a areia da calçada à noite e outros que lavam as escadas de manha cedo. E daí tudo se repete de novo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

quem tem ... troca pra cinqüenta?

Viaje comigo por um momento. Imagine que estámos no meio do deserto num país estranho, sem água, sem comida. Só temos uma montanha de côcos ao nosso lado, mas faltamos uma facão para os abrir. Nem temos rochas. Estámos perdidos numa mar de areia, suando na sombra da nossa montanha de côcos e morrendo de sede. Há um pouco de trafico que passa, vendedores andando para a próxima cidade, uns carros com janelas escuras. Talvez um deles tenha uma faquinha? Mas como vamos perguntar? Eles falam uma língua diferente. Talvez a pessoa que pidamos vá robar nossos côcos e nos deixa numa condição pior da que comecamos.

As vezes, tenho a mesma sentimento aqui em Salvador. Terei dinheiro para gastar, mas faltarei a habilidade de o gastar. Como assim?, posso ouvir vocês pensando.

Simplesmente é o seguinte. Você sai da sua casa com cento e dois reais. Você gasta dois reais para pegar o ónibus para ir à faculdade. Suas aulas acabam, e você tem que voltar para casa. Você espere para o ónibus no ponto. Depois de uma meia-hora, você vê seu ónibus chegando. Joga uma mão, e o ónibus para. Até aqui, tudo está dando certo. Sobe as escadas, e você... você já devem saber o que vai acontecer. O rapaz vai dizer que ele não pode fazer troca para cem reais. O que você estava pensando, amigo? Você vai ter que desecer as escadas e pegar um taxí. Talvez ele tiver troca.

Talvez minha história seja um pouco fantástica, mas a verdade é que troca faz uma questão importante na vida de um estrangeiro em Salvador. O problem é que você não pode pagar para o ónibus com um cartão de crédito e que as máquinas de dinheiro nos bancos gostam de te dar cédulas enormes. Minha vida seria ótima se as máquinas banqueiras me desse cem reais em cédulas de dez reais. Cédulas de cinco seria melhor ainda.

As vezes, e particularmente no ónibus, tem que ter troca, mais ou menos, exata. Peguei um ónibus, voltando da Garibaldi pra Barra, que ao início, negou aceitar meu cédula de dez reais. Simplesmente, o rapaz da caixa não tinha troca. Que incrédulo, né? Convenci-lhe que ele pegasse troca antes que chegassémos no meu ponto, mas assisti, dúvida crescendo dentro do meu coração, como estudante depois de estudante com um cartão de mágico entrou no ónibus sem pagar. Houver uma mulher com dez reais no ponto depois que tentou entrar no ónibus também. Ela foi negada, e mandada para esperar e rezar que o próximo tivesse troca.

Desenvolvi umas estrategens para guardar minha troca e cédulas pequenas. Nas restaurantes, sempre uso a maior cédula que tenho. Eles sempre têm troca, e se não fazem pelos outros clientes. Num restaurante, alguém sempre tem. Quando uso as máquinas banqueiras, pido um número estratégico. R$222, R$188, R$334. (Nunca, nunca use números que são divisíble por R$100 e R$50!) Se você está comprando uma coisinha (seja chiclete ou uma maçã) num supermercado com $R50 e o caixa pergunta se você tem algo menor, a resposta é (senão caso de depressa) não. Talvez você tenha que esperar uma meia-hora e a fila atrás de você vá reclamar, mas sua troca aparecerá. Não desista!

É nos casos como no ónibus quando me sinto a maior saudades para a simpliciadade da vida nos EUA. Lá, saio de casa com meu cartão de crédito, sem pensar em troca ou cédulas. Posso pagar para tudo com ele. Nada é maior ou menor demais para ele. O hambuguer de McDonalds? US$0.96 no meu cartão. O novo vestido para o casamento da minha irmã? US$400 no meu cartão. Ô Visa, te adoro! (Mas acho que as vezes minha vida é mais semelhante às propagandas do Mastercard.)

até mais meus prezados leitores,

lisa