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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Minha despedida

Como eu só tenho duas semanas e alguns dias até eu voltar aos EUA, eu já estou sentindo saudades. Minhas aulas já acabaram e agora a única coisa que eu tenho para fazer é pensar em cada coisa de que eu vou sentir a falta depois de ir embora. Mas esses dias eu estou sentindo bem mais alerta e observante. Pode ser porque eu sou de ferias, mas eu penso que é porque eu não quero perder as detalhes dessas últimas semanas aqui no Brasil. Agora eu quero ser uma esponja para absorver tantas lembranças quantas eu posso, para guardar, e rever no futuro. Como minha maquina fotográfica quebrou na semana passada vai ser ainda mais difícil lembrar de tudo que eu vou ver nas semanas que vêm, mas eu estou escrevendo também, e eu sei que (por causa da internet) eu sempre vou poder conversar com a galera do programa, meus professores e outros amigos para relembrar os momentos bons que eu experimentei aqui.

Na verdade, além da abundância de atividades culturais e experiências pessoais com as várias pessoas que eu conheci, eu aprendi muito na aula de português. Durante as eleições, a gente conversou muito sobre a política, e por isso eu virei mais ligada não só à política brasileira, mas também à política internacional. Embora eu ainda não leia o jornal daqui, eu gostei muito dos artigos que a gente leu na aula, particularmente aquele sobre analfabetismo aqui na Bahia. Eu fiquei tão inspirada por esse artigo que eu estou pensando agora em estudar como alfabetizar crianças e adultos. Na verdade, eu sou poeta e gostaria muito ensinar poesia e aulas de literatura, mas quando eu reparei que eu conheço pessoas que nem sabem ler a palavra “poema” ou qualquer outra palavra que pode ser útil na vida, eu decidi aprender mais sobre alfabetização. Mas esse interesse novo não significa que eu vou abandonar os escritores que a gente conheceu na aula. Por exemplo, eu adorei os poemas de Cecília Meirelles, para quem nossa sala de aula está chamada. Também gostei muito de Clarice Lispector, e estou feliz que eu finalmente tenho um nível de entendimento de português com que eu posso ler e reconhecer as brincadeiras de palavra.

Eu também estou reparando que com o trabalho de produzir um texto cada semana, eu estou escrevendo bem mais regularmente, que usualmente é difícil para mim. Embora eu gostasse da liberdade de escolher nossos assuntos, era muito legal ter tarefas especificas como a entrevista. Eu me senti como uma jornalista verdadeira. É uma pena que o semestre terminou tão cedo porque eu ainda tenho idéias e observações que não tinha a oportunidade de desenvolver aqui. Vou guardar esses assuntos para o futuro. Espero que vocês me visitem no meu blog de vez em quando. Era um grande prazer dialogar com vocês. Obrigada pela sua atenção, sua companhia, e suas respostas.

Beijos,
Aichlee

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

a última carta...

Eu não tenho palavras. Não as tenho e acho que nunca vou tê-as. Não é por que não sei, além de sempre dizer isso. Digo muito essas duas palavras não sei e não é que realmente não saiba, porque com certeza a resposta fica lá dentro, guardada embaixo de toda a confusão sentimental – que nunca é algo claro. Eu sei, mas digo que não sei para me dar um pouco de tempo, para tentar encontrar as palavras certas para descrever o que quero dizer, o que sinto. Como traduzir sentimento em linguagem? Sempre fico frustrada sobre isso. É algo com o qual luto constantemente.

Já comecei mas ainda não sei como começar.....nunca sei quando vêm momentos assim onde existe essa oportunidade para dizer a coisa certa nas palavras perfeitas que traduzem o sentimento justo que quero transmitir. É essa a imagem que vai ficar para sempre ou pelo menos até eu voltar no imaginário das pessoas de quem sou eu. Tem que ser bonito, inteligente, pelo menos engraçado. Mas, ninguém me disse o que dizer quando nem sei o que é que estou sentindo. Suponho que seja uma mistura de coisas, suponho que para mim seja assim sempre, que o sentimento é tão difícil de traduzir em palavras por isso mesmo: a pluralidade. Não tenho as palavras certas no momento certo......em nenhum momento.

Às vezes acho que tenho uma visão romântica sobre as despedidas. É uma visão que tenho fixada na minha mente, onde tudo é lindo e triste (mas realmente é mais lindo do que triste). Preparo tudo para o dia chegar. Faço as compras. Vou ao Mercado Modelo de novo, ao Pelourinho dessa vez com cara de turista querendo comprar as coisas "típicas" que me davam vergonha comprar antes. Visito uma última vez a feira de São Joaquim para achar as mesmas coisas que sempre vi e que sempre deixei para lá, para comprar depois que supostamente irão servir como lembrança. Acho que a lembrança vai ficar nas memorias que fiz de cada viagem que fiz para esse mercado. Lembro de cada um, como uma viagem diferente, acompanhado por pessoas diferentes, me dando uma história nova para contar cada vez. Nunca me canso de ir lá, além de sempre passar por às mesmas bancas, cada vez é como a primeira. Faço um passeio pela cidade que eu conheço. Os lugares que freqüentei muito, os que sempre eram iguais, dessa vez também são iguais. Visito os lugares que sempre fui e não dá tempo de visitar os outros que tenho botado em uma lista. Ainda quero ir para a praia do Flamengo, Itaparica (ainda não fui!! Pode acreditar?), Ilha de Marê, Chapada da Diamantina, Morro de São Paulo.....e segue aumentando a lista. Aqueles lugares são a promessa de eu voltar. As coisas que não fiz, os lugares que não conheci....vão ficar para depois. No último momento, faço as cartas que vou deixar, dizendo as coisas que não posso dizer em voz alta, que sei que não vai dar tempo na velocidade corrida para chegar ao aeroporto que me espera nesse dia tão planejado para não ser assim, mas que sempre termina sendo assim. Corrido. Escuto música e tento enfiar na mala todas as compras e coisas que tão fácilmente entraram antes de sair da minha casa em Wisconsin em uma mala só. Será que o calor daqui aumentou o tamanho das coisas? Creçeram por eu morar tão perto da praia? Não a posso explicar.

Sempre acho que quando chegar na hora de me despedir de algum lugar e de alguma pessoa (às vezes se confundem) vou saber como reagir. No instante vou ter as palavras adequadas saindo da boca e vão sair com fluidez e ritmo. Mas nunca acontece assim. Tomara que só fizesse as cartas para no caso mínimo não saber expressar que vou ter tantas saudades, que aprendi (e talvez não a mostrei certo mas mesmo assim aprendi) de você, que não posso imaginar a minha vida sem você, a praia, o sol, os cheiros. Que me desculpa por ser chata e groseira as vezes, por desprezar você, por não aproveitar o suficiente do nosso tempo (que foi pouco) juntas. Como despedida, fico parada em um engarrafamento estressante, olhando o meu relógio cada minuto em vez de aproveitar os últimos minutos com você. Corro pelo aeroporto só para passar pelas guardas e para toda essa segurança ridicula que tem lá. É um sistema terrível, uma máquina quase cruel. Só para esperar sozinha, dentro do aeroporto, sem você. Nunca sai como quero, como tenho planejado na minha mente, romantizado, glorificado. Eu ainda não estou pronta para voltar. Ainda faltam muitas coisas, me sinto insatisfeita com o Brasil, com o que eu fiz aqui. Além de saber que fiz muito, que aprendi mais do que pensei que ia aprender, não é suficiente. Quero mais. O Brasil é assim. Uma vez que soube algo, fiquei ainda mais interessada, é hipnotizante. Tenho perguntas que ninguém me respondeu, tenho perguntas que nem fiz, tenho dúvidas que nem eu sei o que são.....ainda. Não quero me despedir, ainda não. Então, agora vou sumir. Com essa lista de lugares que ainda não visitei na minha mão, vou sumir. Sem palavra alguma porque já não precisa. Já sabe o que quero dizer....né? Pode ser que encontre uma carta na mesa ou na almofada da cama quando voltar da viagem que fez para me deixar no aeroporto. É essa carta que estou deixando. Sem respostas, sem despedida, sem palavras.