É um fato bem conhecido que brasileiros falam muito e falam a verdade. As vezes, isto é uma boa mudança da minha cultura, que é um pouco mais fechada. Mas, de vez em quando, coisas são ditas que só depois eu acho que eu teria preferido que tivesse ficado dentro da boca do orador.
Nos EUA, é considerado mala educação falar sobre o peso de uma pessoa. E fica pior ainda dizer na frente da pessoa o que você acha do estado da barriga dela. Antes que cheguei no Brasil, achava essa tendência de negar a verdade e de afirmar só as coisas que você acha a outra pessoa quer ouvir uma coisa péssima. Se eu adquiresse um pouco peso, quereria saber! Não me diga que sou magra quando na verdade estou aproximando gordinha!
Aqui no Brasil coisas são completamente differente. Quando você se aproximar gordinha, pessoas vai lhe chamar gorda! E eu achava essa uma boa coisa. Se você estiver no meio de pessoas que só vão te dizer que você parece bem magra, como você vai achar a verdade? De onde vai vir a verdade? Quando suas calças sejam tão apertadas que fica impossível escolher quais vão usar na escola para que não fique sem sangue nas pernas?
Achava essa tendência de falar uma boa coisa até que eu me achei o alvo de uma dessas ataques de verdade.
Era um dia sem importância, o tipo de dia que não ficaria na memôria sem aquele acontecimento. Infelizmente, não fui dado a oportunidade para esquecer.
Cheguei em casa depois de um dia cheio de coisas sem importância. Passei um par de horas numa casa de LAN. Parei no supermercado para comprar chocolate. Seria o aniversário de minha amiga o próxima dia. Comprei uma barra de chocolate para ela e para mim também. (A taxa de câmbio entre o dolar e o real era ao nível mais alto do ano. Estava celebrando.)
Com compras na mão, cheguei em casa. A hora da telenovela das oito horas estava chegando e eu tinha voltado à casa para jantar durante o intervalo das notícias. Deixei minhas compras no meu quarto e entrei na cozinha para pedir comida de nossa empregada, Graça. Graça e Val, a amiga dela, estavam na cozinha, assitindo as notícas na tevê. Acabei de fechar a porta e cumprimentar as duas quando Val deixou cair o commentârio pesado: "Lisa, você é gorda!"
Eu parei, boca meia aberta, como se soubesse que iria ser soprendida. Na verdade, foi no meio de pedir jantar. Mudei para "se acha?" e "cadê os copos para água?"
Que sacanagem foi isto?! (Na verdade, nào sei direitinho o que é sacanagem. Mas, sem dúvida, isto foi sacanagem!) Sim, talvez tivesse adicionado um pouco peso nas últimas semanas. Mas gorda? Talvez seja um pouco "gordinha". Com certeza não sou gorda sem "inha"!
Voltei para meu quarto, copo de água na mão. Joguei minha mão na saquinha que trouxe do supermercado e tirei a barra de chocolate que acabei de me comprar. Mirava ao filho de Val (ele gosta de usar meu computador quando ele nos visita) e diz: "Te darei essa barra com uma condição: só me deixa ter um pedaço. (Gorda acaba agora!) Mais e tudo vai no lixeiro!" Cheio de dúvidas, ele aceitou. Acho que foi a primeira vez que ele experimentou o chocolate de Toblerone.
Tive que repensar meus sentimentos sobre brasileiros e o seu jeito de falar a verdade. Assitindo minha barra de chocolate desaparecer na boca do outro, gostei ainda? Era difícil dizer. E ainda fica difícil. Não eu me mudaria se eu não pensasse que estou me virando gorda. E não pensaria assim se Val não tivesse me falado. E foi a verdade, tinha ganho mais que um pouco de peso. Mas deu uma golpe aos meus sentimentos. Acho que ainda eles estão ferido (e querendo chocolate).
Não seria uma choque cultural se não lhe deixasse um pouco "chocado". Pense comigo como "chocada". E o filho de Val como um pouco mais "chocolado".
Até mais!
Lisa
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terça-feira, 14 de outubro de 2008
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7 comentários:
Lisa...
gostei muito de seu texto, você tem toda razão quando fala que nos brasileiros somos sinceros por demais e essa atitude não só reflete em nossa vida cotidiana mas como um todo. É necessario para qualquer ser humano balancear sua sinceridade com um pouco de "malícia".
sabe quando você acaba de ler uma coisa, e sente sua cabeça... ahn... vazia? isso aí! A minha tá assim agora =x
Poxa meninas, o blog tá super bem feito, parabéns!
Que inveja! Um ano atrás fui eu quem estava começando um blog com Alex e agora morro de saudade da aula dele e de todas as experiências maravilhosas e horrorosas que eu tive e que vocês vão ter também. Sorte nesse semestre.. aproveitem cada dia!
-Alida (ex-aluna do Propeep)
Gordinha, gorducha, fofinha,cheinha....
É fato, Lisa, as mulheres são cruéis em qualquer lugar do mundo!!!!! Mas, se você quiser uma opinião diretíssima, pergunte para uma amiga muuuiiiiiiiito chegada ou então pra sua e-m-p-r-e-g-a-d-a!!!!! Elas são um bom termômetro de tudo que vestimos, comemos e até falamos! Pois é..., bem vinda ao mundo da famosa empregada que se sente "família" suficiente pra chamar a sua atenção. Ah..., nem todas são assim, mas é difícl de encontrar!
P.S. Eu adoro a minha: quando estou muito quieta ou triste ela me mima com bolos, cafezinho, docinhos e até vale um : ä senhora tá tão quietinha que a casa fica triste!"
Beijos de BSB,
Profa. Christiane M.
Como uma brasileira que sofreu muito no Brasil por ser gorda, posso dizer que o que vc escreveu e comum e e uma pura verdade. No Brasil, muitas pessoas se acham no direito de comentar sobre a gordura, roupa e aspectos fisicos de uma pessoa; coisa que nao que encontro aqui no Uk, pois se a pessoa quiser andar com uma melancia na cabeca o problema e dela.Eu pessoalmente nao chamo isso de sinceridade e sim falta de educacao.
Gostei muito do que vcs escreveram e ja recomendei este blog para amigos. Sorry,nao tenho acentos neste teclado e raramente escrevo em portugues.
qsou aluna de Alex, na faculdade, adorei seu humor nesse texto. Bom, se era para ele ser irônico, e até engraçado, conseguiu!
abraço
Lisa, surprendeu-me ler o seu texto, porque sempre atribuí à Espanha a fama de país onde se fala a verdade, doa ela a quem doer. Sou brasileira, já morei na Suíça e agora resido há 6 anos na Espanha. É verdade que por sermos menos formais, no Brasil, às vezes falamos demais, mas noto que muitas vezes o brasieliro é covarde e hipócrita. Quando vou ao Brasil sinto muita falta da objetividade e franqueza que existe entre as pessoas na Europa e aborreço-me com o lenga-lenga, rodeios e não-cumprimentos de palavras em certas situações porque querem ficar numa boa com todos sempre. Quando estamos num país em que não é nosso, é bom não generalizarmos casos isolados (como com sua empregada), atribuindo-os a um comportamento característico de toda uma nação. Comece a reparar quando o brasileiro fala demais e quando rodeia ou mente para não ser sincero. Um abraço.
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