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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Esse menino estrangeiro


Praia da Barra (Morro do Cristo)



Queridas Aichlee, Amy, Lisa, Paola,

Queridas e queridos visitantes deste blog,

Pela primeira vez participei de um projeto de blog para um curso de português para estrangeiros, sem escrever, sem me manifestar no suporte, o blog. Naturalmente, as meninas autoras deste acontecimento multimidiático de trocas interculturais em português variedade brasileira estiveram em diálogo comigo durante todo o processo. Em geral, os textos antes de chegarem aqui passaram por pelo menos uma reescrita, após indicações de correção e comentários sobre forma e conteúdo, sobre possíveis respostas suscitadas pelos textos, sobre as intenções, as práticas, os contextos relacionados aos discursos.

Foi um semestre intenso, hem? Não sei para vocês, mas para mim, nossa! Foram quatro meses de idas e vindas. Karin, uma das autoras do gringos tagarelas começou com a gente, mas por causa dos horários da Universidade Católica, teve que ir para as aulas da queridíssima Tânia. Ina estava muito interessada e entusiasmada, mas teve que ficar com as aulas de Fotografia do também querido Edgard Oliva. Perdi dois alunos para dois professores amigos. Logo, não perdi, eles, alunas e professores, é que ganharam. Ganhei quatro meninas estrangeiras. Foram elas que se nomearam assim. Ou pelo menos foi Lisa que deu o nome e todos, inclusive eu, aceitamos.

Demorei muito para escrever por muitos motivos. Além de todas as minhas atribuições de professor em final de ano, neste eu resolvi me inscrever para o Mestrado em Letras da UFBA com um projeto para a área de Ensino de Língua Estrangeira. Como eu já tinha cursado um outro Mestrado, só que em Teoria da Literatura, não podia fazer feio. Passei e agora vou continuar (não começar) minha pesquisa sobre blogs como ferramenta de ensino-aprendizagem de Português como Língua Estrangeira. Acredito que um blog neste caso é muito mais que uma alternativa de material didático, mas um lugar de interação real, de práticas discursivas significativas para o professor e os aprendizes e, mais importante, um ambiente virtual em que os papéis de professor e aprendiz são ressignificados.

Além da seleção pro Mestrado e das turmas de brasileiros e estrangeiros que tinha que concluir, participei do X Seminário de Lingüística Aplicada, coordenando uma Sessão Temática http://www.sla.letras.ufba.br/programacao_mais.htm#1012com na qual apresentei um trabalho sobre este blog e algumas trocas interculturais observadas entre as autoras e os brasileiros que deixaram alguns comentários. Vou falar muito brevemente do que tratei nesta comunicação, que deve ser publicada nos Anais do evento citado.

Nesta pesquisa, pretendo demonstrar, com base em uma experiência de mais de um ano e três blogs, como este suporte/ambiente virtual pode servir de espaço de aprendizagem significativa não só para os “estrangeiros”, mas para os brasileiros, o que inclui o professor. Longe de uma retórica vazia adepta de certos modismos pedagógicos, venho observando que à medida que vamos praticando a escrita regular, socialmente motivada porque com leitoras e leitores reais, os temas vão surgindo não por imposição do professor ou do plano, mas da necessidade de compreender o Brasil, os brasileiros e as brasileiras e a própria cultura de origem de quem escreve.

Partindo de um conceito de ALMEIDA FILHO, o de desestrangeirização, fui com o tempo observando que quem mais vai modificando a percepção da língua-cultura do Brasil sou eu. Modifico porque as perguntas que me são feitas me fazem olhar a minha língua-cultura como quem vê de fora, como quem está também aprendendo. Problematizando o lugar de estrangeiro, problematizo o meu lugar de nativo e de professor. Aprendi com Paola, Amy, Aichlee e Lisa (neste semestre, além dos outros estudantes, brasileiros e estrangeiros) em quatro meses o que Paulo Freire, Homi Babha, Said Ali, Fantz Fanon, Michel Foucault vêm duramente tentando me ensinar há alguns anos: desacreditar dos estereótipos, das verdades inquestionáveis, das trocas desinteressadas, dos saberes higienizados, das respostas fáceis.

Foi movido por este espírito questionador e problematizador que pela terceira vez propus um blog a uma turma de estudantes estrangeiras. E elas toparam. Jamais pensando nelas como cobaias de uma experiência de laboratório virtual, mas partindo da crença de que temos nessas “meninas estrangeiras”, como vocês bem podem ver nestes textos aqui publicados, autoras também em português brasileiro, dotadas de voz e vontade, sujeitos de uma história que se vai escrevendo e que não acaba nunca, como eu gostaria muito que nunca acabasse esse blog.

Aguardo vocês, meninas estrangeiras, com seus comentários, e vocês leitoras e leitoras deste blog. Foram mais de 500 pessoas nos 5 continentes (o "whos amung us" deu pane, infelizmente! mas passou muito mais gente do que o mapinha do lado está mostrando agora). Aguardo novos textos das verdadeiras autoras deste projeto. Conto com a ajuda de todas e todos para minha pesquisa de mestrado, que não pretende revolucionar o mundo, mas que quer contribuir com a sistematização de uma metodologia que vem dando certo, como Aichlee de forma tão generosa testemunhou no texto abaixo. Volto em breve.

Feliz 2009!

Salvador, segundo a minha varanda (minha até março de 2009!)



5 comentários:

Terena Cardoso disse...

Quando comecei a ler o blog, não o pensei como instrumento de ensino-pedagógico. Apenas senti que aqui, teriam histórias incríveis para ler.
Fatos, acontecimentos, peripécias, enfim... contadas por um ângulo "de fora" que eu, "de dentro", estava disposta a me deliciar e aprender com elas.

No mais, se a moda pega, será muito útil, bem vinda e estamos precisando disso, afinal, não consigo entender como textos tão bons, que dizem tanta coisa, não enchem de comentários. =x

Parabéns às meninas e sucesso! xD

Teka disse...

Quando comecei a ler o blog, não o pensei como instrumento de ensino-pedagógico. Apenas senti que aqui, teriam histórias incríveis para ler.
Fatos, acontecimentos, peripécias, enfim... contadas por um ângulo "de fora" que eu, "de dentro", estava disposta a me deliciar e aprender com elas.

No mais, se a moda pega, será muito útil, bem vinda e estamos precisando disso, afinal, não consigo entender como textos tão bons, que dizem tanta coisa, não enchem de comentários. =x

Parabéns às meninas e sucesso! xD

joão lima disse...

Deu vontade de fazer esse curso...

Anônimo disse...

esse blog é uma delícia. parabéns pela iniciativa.

Anônimo disse...

e pra' facilitar o trema nao mais existe em muitas palavras. Fica a dica!