Veja no mapa de onde vêm nossos leitores. Seja bem vindo(a)!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A questão de democracia racial no Brasil

O seguinte é um texto baseado em uma apresentação que eu fiz para o final da turma:


A questão de democracia racial no Brasil

O que é democracia racial?

A teoria de democracia racial diz que, em comparação aos EUA, nos países latino-americanos inclusive o Brasil, não existe o racismo intenso que caracterizou os relacionamentos raciais norte-americanos nos séculos XIX e XX.

A teoria esta baseada nesses três fatos:

1) Que, nos países latino-americanos, depois da abolição de escravidão, não existiam leis de segregação que permitiam discriminação racial.

2) Que, agora, não existe tanta violência racial (linchamentos e outros crimes de ódio) feita por grupos racistas como o KKK.

3) Que a miscigenação racial ocorreu muito na historia dos países latino-americanos

A teoria também diz que qualquer desigualdade racial que encontraria em América Latina existiria somente porque os recursos (como moradia boa, empregos com rendas agradáveis, e escolarização) antigamente eram negados por razoes racistas e não porque ainda existe racismo nesses países.



Aqui temos, Frank Tannenbaum, um sociólogo Americano que escreveu um livro, Escravo e Cidadão, que compara racismo nos EUA com racismo em América Latina. O livro, que foi publicado em 1947, sugere que existe democracia racial no Brasil. Eu li o livro no ano passado, e a maioria de meu entendimento de democracia racial vem dessa leitura.



Seguindo os teoristas da democracia racial, a igualdade racial existe em América Latina (e não nos EUA) por causa desses três fatores:

1) Como os colonistas ibéricos (que chegaram em América Latina) já tinham experimentado o governo dos mouros que durou quase 800 anos, não tinham aquele pensamento que pessoas com pele escura (quer dizer, os indígenas e os africanos) eram sub-humanos como pensaram os colonistas europeus (que chegaram em América do Norte.)

2) Ao contrario da doutrina puritana de América do Norte, catolicismo considerava os indígenas e os africanos como pessoas que tinham almas, então não tinham problemas interagindo pessoalmente com eles.

3) Os primeiros colonistas de América Latina não chegaram com suas famílias, como aconteceu em América do Norte e por causa disso eles tinham mais relacionamentos sexuais e emocionais com mulheres africanas e indígenas, o resultado sendo que ainda não se encontra discriminação racial por causa da miscigenação

Embora a idéia de democracia racial já esteja considerada um mito pelos sociólogos, ainda existem pessoas que chegam aqui no Brasil com a expectativa de achar um paraíso racial. Muitas vezes são afro-americanos.

Dois anos atrás eu li um artigo publicado em Essence Magazine, uma revista afro-americana, que enfocou nos homens afro-americanos que viajam cada ano para o Brasil. O artigo disse que todos os homens estavam largando mulheres afro-americanas para ficar com mulheres brasileiras, que eram prostitutas. Embora turismo sexual seja problemático aqui no Brasil, o artigo não tratou bem desse assunto e em vez disso virou uma reclamação xenofobica e ignorante. Eu pensei que o artigo era uma bobagem, mas tinha algumas respostas na parte de entrevista que eram mais interessantes. Os homens falaram que gostavam do Brasil mais do que os EUA porque no Brasil eles se sentem mais respeitados, pelas mulheres, pelos donos das lojas, e pelos garçons.

Na verdade, eu acho que eles estavam sentindo a valorização de ser americano e não de ser negro. Por que? Porque têm dinheiro. Geralmente profissionais da classe-media nos EUA, aqui eles são ricos. Se eles chegassem aqui e parecessem obviamente turistas com roupa americana, e falando inglês não teria como ficar ignorados nas lojas e restaurantes, ou considerados como ladrões ou traficantes. Por não ter sofrido discriminação parecida com ela que sofrem do dia a dia nos EUA, e também por ter visto (particularmente aqui em Salvador, que é um destino popular) a valorização da cultura negra, eles pensam que não existe problemas raciais no Brasil.



Aqui temos Ilê Aiyê, um bloco afro que tem muitas músicas contra racismo, sobre a valorização do negro no Brasil. O grupo é muito popular entre turistas.

Embora seja claro que todos os afro-americanos não pensam assim, eu queria falar do artigo só para mostrar que a idéia de democracia racial não é completamente antiquada.

Antes de chegar aqui, eu recebi um texto escrito por Professor Jefferson sobre ser negro no Brasil que ele escreveu para os estudantes do CIEE. No artigo ele tratou do mito de democracia racial e o papel que ele tem aqui no Brasil. Jeferson diz que a harmonia e evitação de confrontação racial fazem parte da nacionalidade brasileira, e também expressam a ideologia racial brasileira. Mas, embora ele avisasse que negros brasileiras não iam querer falar sobre racismo, eu já ouvi muitas coisas sobre racismo brasileiro, e vi ainda mais com meus próprios olhos.

Aqui, a desigualdade da moradia em Rio. Na frente tem apartamentos e hotéis de Copacabana, e no morro atrás tem uma favela.



Eu vi que não tem tantos negros bem escolarizados como brancos. Conheço várias pessoas analfabetas ou quase analfabetas. Eu conheço mais pessoas negras que não têm trabalho, ou que têm trabalho de serviço, como porteiro ou empregada. Eu já visitei duas favelas. Fui numa casa que não tinha água quente, nem gelador, nem comida na mesa. A mãe, o pai e 4 crianças moram na casa de uma sala e um quarto, separados só por uma cortina. Eu já vi quem é que janta nos bons restaurantes e quem dança nos boates chiques. Eu vi quem é que bebe na rua e quem vai para pagode. É assim como Brasil parece ser segregado sem o nome de segregação.



Aqui é uma mãe e suas filhas que moram no interior, numa cidade chamada Aratuípe. Pode ver que não tem muita roupa, nem tem vidro na janela.

Alem de ter leis contra racismo no Brasil, ainda tem racismo estrutural e sutil. Como Oracy Nogueira disse, discriminação racial no Brasil está baseada na aparência e não na origem. Então, pessoas com pele escura que seriam discriminadas podem equilibrar as desvantagens da sua cor com a sua inteligência, com dinheiro, com talento, ou por ser bem-vestido. Mas, ainda é difícil para um afro-descendente subir na sociedade porque o que determine sua posição na hierarquia social é muitas vezes a família, a escolarização, e o emprego. Então, existe a idéia que para subir na sociedade brasileira, um negro tem que ter um casamento inter-racial, ou fazer parte de atividades culturais ou seja como capoeirista ou como musico.



Aqui é uma casa de família que esta faltando um parede, com tijolos segurando o telhado.

Eu acho que um outro modo de subir na sociedade vai virar popular entre os negros aqui no Brasil. Durante a campanha de Obama, eu assisti no jornal inglês, um segmento sobre os sete políticos brasileiros que adotaram o nome de Obama para as eleições. O segmento enfocou num cara em particular, Cláudio Henrique, que mora numa cidade na periferia do Rio, onde ser político é um risco da vida. Ele queria ser prefeito para ajudar os moradores de sua cidade, que são pobres e sempre esquecidos pelo governo. Inspirado por Obama, ele falou muito de esperança e mudanças, que ele era o único candidata negro e que nunca tinha prefeito negro lá na cidade dele. Infelizmente ele e todos os outros Obamas brasileiros perderam.



Aqui é um quadro de Obama no Shopping Barra.

Mas os aspirantes políticos não estão sozinhos no culto de Obama. Têm muitas pessoas negras aqui no Brasil e nos EUA também, que pensam que os problemas raciais dos EUA acabaram com a eleição dele. Como ele vem de uma família misturada, e mostrou que podia juntar pessoas de varias raças para elegê-lo, crentes no mito de democracia racial tem um novo interes nele, porque a vitória dele pode simbolizar a superação da raça, e a criação de um mundo sem racismo. Eu acho que a vitória dele mostrou que negros no mundo inteiro tem oportunidades na vida fora de ser atletas ou músicos, mas eu nunca vou dizer que o racismo terminou por causa dele. A gente ainda tem muito mais trabalho pra fazer.

Nenhum comentário: